Luis Fernando Verissimo. Foto: Wikimedia Commons |
O escritor Luis Fernando Verissimo fala sobre o governo Bolsonaro em sua crônica no Estado de S.Paulo.
“Nós estamos sendo atacados.
Quem somos nós? É difícil nos definir.
Temos tipos diferentes. Somos de raças e idades diferentes. Nossos
cortes de cabelo, formatos do nariz, formatos de orelhas, gostos
musicais, manias, interesses, preocupações, alergias, saldos bancários e
cheiros corporais são variados, e torcemos por times diferentes.
Mas no
momento o que deve nos unir é o fato, agora inegável, que estamos sendo
violentamente atacados pelo nosso próprio governo. Temos de esquecer
nossas diferenças e nos concentrarmos nessa verdade nua e crua: que isso
não é um país, isso é uma zona de guerra. E eles atiraram
primeiro. Cada novo pronunciamento do Bolsonaro é um morteiro que nos
atinge.
Cada nomeação esdrúxula para o governo mais estranho da nossa
História parece ter sido feita especificamente para nos obrigar a usar a
palavra ‘esdrúxula’, o que inibe qualquer reação mais séria. Temos o
governo civil mais militar que o País já conheceu, para nos confundir.
Aguarda-se a explicação que nosso futuro embaixador em Washington dará
para isso, e em que língua”.
Ele desenvolve o raciocínio: “A campanha mais intensa deles
contra nós é a que está começando agora, com um ataque frontal à
inteligência brasileira. Verbas para a pesquisa estão sendo cortadas –
às gargalhadas, não duvido – e isso é apenas o começo de cortes que
virão em todo o sistema educacional, o primeiro sacrificado onde quer
que “o mercado” derrote o bom senso”.
E completa: “Para ganhar essa guerra pelos cérebros da nação um lado
tem a força e a tesoura e o outro tem só a indignação estéril – mas que
pode surpreender. Os estudantes estão voltando às ruas”.
E frisa: “Nós, mesmo desorganizados, estamos começando a nos mobilizar”.