"É
impossível avaliar o atual cenário político sem apontar as responsabilidades da
Rede Globo com este quadro trágico. Globo, Lava Jato e o governo Bolsonaro
integram um mesmo e único processo de esmagamento do projeto democrático dos
governos petistas", diz o colunista Milton Alves
Lula,
William Bonner e Renata Vasconcellos (Foto: Brasil247 | Reprodução)
O artigo
“É hora de perdoar o PT” do articulista Ascânio Seleme no jornal O Globo, neste
sábado (11), apresenta argumentos em defesa da necessidade de um “pedido de
perdão” ao Partido dos Trabalhadores.
Segundo Seleme, o PT já foi punido com o
impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e castigado com a prisão de
Lula e de outros destacados líderes da legenda.
O
jornalista reconhece a força e relevância do partido quando diz: “Esse
agrupamento político, talvez o mais forte e sustentável da história partidária
brasileira, tem que ser readmitido no debate nacional.
Passou da hora de os
petistas serem reintegrados. Ninguém tem dúvida de que os malfeitos cometidos
já foram amplamente punidos. O partido teve um ex-presidente e seu maior líder
preso e uma presidente impedida de continuar governando”.
Porém o
articulista continua sustentando a narrativa da participação do PT no esquema
que ele chama de “roubalheiras”, com “desvios de dinheiro público nas gestões
de Lula e Dilma”. Ascânio ainda desenvolve um argumento de cínica benevolência
quando afirma que o petismo não é o malufismo. Quanta consideração do Sr.
Ascânio ao PT!
Ascânio
mais adiante também afirma “que o ódio dirigido ao PT não faz mais sentido e
precisa ser reconsiderado se o país quiser mesmo seguir o seu destino de nação
soberana, democrática e tolerante”.
O que
articulista não diz que foi exatamente a Rede Globo a patrocinadora e condutora
de uma violenta campanha de ódio contra um partido e uma governante eleita de
forma legítima, após a derrota do então candidato preferido da família Marinho
nas eleições presidenciais de 2014.
A Rede Globo atuou como uma coluna avançada
na ofensiva golpista contra presidenta Dilma, estimulando os movimentos de rua
e o golpe parlamentar – com um impeachment sem crime de responsabilidade.
A
campanha da Globo pela destruição do PT foi mais além após a queda da
presidenta Dilma. O alvo do grupo de comunicação da família Marinho passou a
ser o ex-presidente Lula, que foi vítima de uma orquestrada e sem precedente
ação de lawfare, o que culminou com a sua prisão em 2018 pela fraudulenta e
criminosa operação Lava Jato.
Com Lula
preso, o PT criminalizado pelo ex-juiz Sérgio Moro, os petistas demonizados, a
Globo facilitou o caminho para a vitória de Jair Bolsonaro, inaugurando um
período político de retrocesso democrático, de desmonte do estado nacional e de
desastre econômico e sanitário no país.
É
impossível avaliar o atual cenário político sem apontar as responsabilidades da
Rede Globo com este quadro trágico em que o Brasil mergulhou. Globo, Lava Jato
e o governo Bolsonaro integram um mesmo e único processo de contenção e
esmagamento do projeto democrático e de inclusão social representado pelos
governos petistas. Foi contra isso que o andar de cima se levantou com todo
apoio da Rede Globo.
A Globo
deve mais um pedido de perdão ao povo brasileiro. Será que vai demorar quarenta
anos para reconhecer o novo erro? Tempo que levou para fazer a autocrítica pelo
apoio dado ao golpe militar de 1964…
*Ativista
político e social. Autor do livro ‘A Política Além da Notícia e a Guerra
Declarada Contra Lula e o PT’ (Kotter Editorial).
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