José Luiz Alquéres resolveu expor seu caso como ex-empregado da companhia
Por Ancelmo Gois
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/d/9/E3AlxSQ9KmktAtWA8HBQ/infochpdpict000035574331.jpg)
Sabe a tragédia denunciada por Elio Gaspari sobre os 815 aposentados da
Eletrobras cujos contracheques têm vindo com descontos de até 50% para
cobrir déficits — muitos com praticamente todo o benefício comprometido? O engenheiro José Luiz Alquéres, que presidiu a Eletrobras quando ainda
era estatal, lamenta “a insensibilidade dos proprietários da empresa”
diante do drama vivido por esses participantes do fundo de pensão, “hoje
abandonados pela Eletrobras, à qual se dedicaram por longos anos”.
Ele resolveu expor seu caso como ex-empregado da companhia:
“Em condições normais, eu estaria recebendo um contracheque que me imporia um pagamento à Eletros de R$ 3.600 por mês”, afirma. “Exponho a situação e o meu caso sem reivindicação pessoal, mas como um dever ético para com as mulheres e os homens que, com dedicação, assinaram um contrato de trabalho onde, explicitamente, a Eletrobras — patrocinadora da Eletros — garantia a cobertura integral de seus déficits atuariais.”
O ex-presidente lembra que o montante total do déficit do fundo é de cerca de R$ 1 bilhão. “Não custa lembrar que a Eletrobras — que sempre indicou o dirigente da Eletros, desde sua criação e até hoje — acaba de divulgar que pagará R$ 4 bilhões de dividendos intermediários para seus acionistas.”
Gerontocídio
O jornal O Globo, em sua edição de quarta-feira, 13 de agosto, publicou uma matéria dos jornalistas Roberto Malfacini e Bruno Rosa, intitulada “Eletrobras: aposentados veem renda passar de R$ 14 mil para R$ 600”. A reportagem detalha o drama vivido por 620 participantes da Eletros, fundo de pensão da Eletrobras, hoje abandonados pela empresa à qual se dedicaram por décadas.
A situação é agravada por nuances de processos políticos, pela Justiça brasileira e pela insensibilidade dos atuais proprietários. O texto apresenta casos dramáticos de antigos funcionários — em geral do setor administrativo, mas que também incluem engenheiros que planejaram, projetaram e construíram o maior parque hidrelétrico do mundo ocidental.
“Eu presidi a Eletrobras e, sem falsa modéstia, considero ter sido um bom presidente. Atuei no início da transição do setor elétrico da esfera pública para a privada, criando condições essenciais para que se atualizasse tecnologicamente e captasse recursos no mercado privado, viabilizando a expansão necessária do Brasil. Esse processo brindou a iniciativa privada com empresas e profissionais de alta qualidade, que, livres das amarras do Estado, continuaram a contribuir para o desenvolvimento nacional”, relembra Alquéres.
Aposentado após 30 anos de trabalho — 22 deles no setor elétrico e no
BNDES —, ele foi o primeiro funcionário da casa a galgar todas as etapas
de crescimento até ser nomeado presidente por mérito técnico e de
gestão. Seu contracheque hoje representa R$ 18.400 líquidos. “Ora,
dirão, e eu concordo, uma excelente remuneração para um aposentado de 81
anos. Mas recebo este valor porque abri mão do meu seguro de vida (que
custaria R$ 5.000 por mês), do plano de saúde Bradesco Plazas (R$ 6.000
por mês) e, com a venda de um imóvel da família, quitei antecipadamente o
valor cobrado pela contribuição ao déficit atuarial da Eletros — que,
no meu caso, representaria um desconto de R$ 5.500 por mês durante dez
anos.” Ele reforça que não expõe a situação para benefício próprio, mas para
cobrar justiça em nome dos colegas, cuja idade média é superior a 80
anos. “O déficit atuarial é de cerca de R$ 1 bilhão. Não custa lembrar
que a Eletrobras, que sempre indicou o dirigente da Eletros desde sua
criação, anunciou o pagamento de R$ 4 bilhões de dividendos
intermediários aos acionistas neste ano, além de R$ 4,1 bilhões no
início de 2025, referentes aos resultados de 2024.”
“Espero que a minha voz, somada ao clamor de justiça dos meus colegas, ajude a mitigar o sofrimento deles”, conclui.