Eu estava em Brasilia, hospedado na
casa de minha irmã de coração Ana Paula Boechat, no dia em que estourou
o "escândalo do mensalão". No Bom Dia Brasilia, Alexandre Garcia abre
as noticias:
"conforme havia prometido, desde a
época do processo contra Collor, o Deputado Roberto Jefferson denuncia
parlamentares do PT. É a forra que havia prometido desde então". Isso
deve estar gravado em algum lugar. Bob Jeff cumpria sua vingança em
relação ao PT e jogava lama no maior partido de esquerda do mundo, no
poder.
Esse artigo de Jânio de Freitas apenas referenda isso.
O resto a história julgará!
O Broguero
A mentira foi a geradora de todas as verdades, meias verdades,
indícios desprezados e indícios manipulados que deram a dimensão do
escândalo e o espírito do julgamento do “mensalão”.
Por ora, o paradoxo irônico está soterrado no clima odiento que, das
manifestações antidemocráticas de jornalistas e leitores às agressões
verbais no Supremo, restringe a busca de elucidação de todo o episódio.
Pode ser que mais tarde contribua para compreenderem o nosso tempo de
brasileiros.
Estava lá, na primeira página de celebração das condenações de José Dirceu e José Genoino, a reprodução da primeira página da Folha em
6 de junho de 2005. Primeiro passo para a recente manchete
editorializada – CULPADOS -, a estonteante denúncia colhida pela
jornalista Renata Lo Prete: “PT dava mesada de R$ 30 mil a
parlamentares, diz Jefferson. O leitor não tinha ideia de que Jefferson
era esse.
Era mentira a mesada de R$ 30 mil. Nem indício apareceu desse
pagamento de montante regular e mensal, apesar da minúcia com que as
investigações o procuraram. Passados sete anos, ainda não se sabe quanto
houve de mentira, além da mensalidade, na denúncia inicial de Roberto
Jefferson. A tão citada conversa com Lula a respeito de mesada é um
exemplo da ficção continuada.
A mentira central deu origem ao nome -mensalão – que não se adapta à
trama hoje conhecida. Torna-se, por isso, ele também uma mentira. E,
como apropriado, o deputado Miro Teixeira diz ser mentira a sua autoria
do batismo, cujo jeito lembra mesmo o do próprio Jefferson.
Nada leva, porém, à velha ideia de alguém que atirou no que viu e
acertou no que não viu. A mentira da denúncia de Roberto Jefferson era
de quem sabia haver dinheiro, mas dinheiro grosso: ele o recebera. E não
há sinal de que o tenha repassado ao PTB, em nome do qual colheu mais
de R$ 4 milhões e, admitiria mais tarde, esperava ainda R$ 15 milhões. A
mentira de modestos R$ 30 mil era prudente e útil.
Prudente por acobertar, eventualmente até para companheiros
petebistas, a correnteza dos milhões que também o inundava. E útil por
bastar para a vingança ou chantagem pela falta dos R$ 15 milhões,
paralela à demissão de gente sua por corrupção no Correio. Como diria
mais tarde, Jefferson supôs que o flagrante de corrupção, exibido nas
TVs, fosse coisa de José Dirceu para atingi-lo. O que soa como outra
mentira, porque presidia o PTB e o governo não hostilizaria um partido
necessário à sua base na Câmara.
Da mentira vieram as verdades, as meias verdades e nem isso. Mas a
condenação de Roberto Jefferson, por corrupção passiva, ainda não é a
verdade que aparenta. Nem é provável que venha a sê-lo.
MAIS DEDUÇÃO
Em sua mais recente dedução para voto condenatório, o presidente do
Supremo, Ayres Britto, deu como certo que as ações em julgamento visaram
a “continuísmo governamental. Golpe, portanto, nesse conteúdo da
democracia que é o republicanismo, que postula renovação dos quadros de
dirigentes”.
Desde sua criação e no mundo todo, alcançar o poder, e, se alcançado,
nele permanecer o máximo possível, é a razão de ser dos partidos
políticos. Os que não se organizem por tal razão, são contrafações,
fraudes admitidas, não são partidos políticos.
Sergio Motta, que esteve politicamente para Fernando Henrique como
José Dirceu para Lula, informou ao país que o projeto do PSDB era
continuar no poder por 20 anos.
Não há por que supor que, nesse caso, o ministro Ayres Britto tenha
deduzido haver golpe ou plano golpista. Nem mesmo depois que o projeto
se iniciou com a compra de deputados para aprovar a reeleição.
Copiado do Viomundo